terça-feira, 15 de maio de 2012

A ARTE DO PALHAÇO E AS POSSIBILIDADES EDUCATIVAS: UMA PERSPECTIVA DE DESESCOLARIZAÇÃO

Por Caxambó (Igor Sant'Anna)
não há de ser forte, há de ser flexível”
Ditado Chinês


Através do brincar, os pais podem atingir alguma comunicação com seus filhos.  Há uma lógica de pensamento  muito diferente no mundo adulto e no mundo da criança. Se, através da imposição os pais tentam disciplinar seus filhos estarão entregues a ilusões. Se algum comportamento de obediência surgirá a partir da imposição, este será somente um artifício aprendido pela criança para evitar a coibição violenta dos pais. A criança estará aprendendo a deixar sua espontaneidade de lado para seguir algo que não entende o sentido. Estará sendo condicionada, mas não educada. 

A verdadeira educação surge quando há uma plena comunicação entre pais filhos e isso só pode ser alcançado se os adultos aproveitarem o surgimento desses novos seres no mundo como algo sagrado, capaz de transformar o cotidiano e levar as pessoas a estados de espírito elevados, através da inocência. Os adultos que se rendem à inocência de seus filhos serão premiados com uma relação de amor e companheirismo que ultrapassa a relação de pai e filho. Através da ludicidade pode se atingir a verdadeira obediência, aquela que surge da compreensão, da cientificação, do entendimento real das causas dessa obediência. A verdadeira obediência surge através do amor.

A arte do palhaço tem muito a contribuir para a relação entre pais e filhos nesse sentido.  Aqueles que ingressam numa pesquisa desta arte compreendem o quanto a brincadeira é coisa séria, e como através do lúdico podemos chegar a infinitas possibilidades de comunicação humana. Através do brincar, do prazer de estar presente, e de uma das finalidades, o riso, o ser humano atinge um estado de relaxamento tão necessário para a consecução do aprendizado. 

Pearce no seu livro, a Criança Mágica, explica que o processo de aprendizado envolve necessária e inevitavelmente o stress que acontece naturalmente ao se visitar o desconhecido que são as novas informações. Porém, para a assimilação dessas novas informações é fundamental o momento de relaxamento. Para se atingir o estado de relaxamento é necessário o vínculo emocional que faça os filhos se sentirem totalmente seguros com os pais. Através do vínculo, da aceitação do erro, os pais podem atingir um alto nível de comunicação com seus filhos e a partir daí conectar-se à sua lógica de pensamento e agir dentro desta lógica para comunicá-los as regras do mundo que estão a descobrir, sem expressões de violência e sem coibição dos sentidos.

A arte do palhaço é a arte do erro. O palhaço é aquele que erra, aquele que não se adéqua e que ri da sua não adequação. O palhaço denuncia uma realidade humana muito comum. Cada ser humano é um indivíduo singular, como dizia Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”, mas o processo de escolarização da sociedade quer formar exércitos de trabalhadores, disponíveis, obedientes ao sistema, mas desobedientes a suas próprias causas, a suas próprias vocações. O palhaço é aquele personagem que dilata as características humanas, comuns, inadequadas à massificação da sociedade industrial e, através do riso, pede licença à sociedade para tentar se adequar, mas nunca consegue. As pessoas não podem condená-lo pelo ato de rebeldia, porque o palhaço realmente tenta se adequar, mas nunca consegue. No meio do caminho um tropeço, ou as calças caem e ele fica nu, ou ele bate a cabeça num poste. Dessa maneira nos leva a refletir sobre uma característica que é abafada e reprimida, uma característica plenamente humana.

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